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Mulheres do Paraná repudiam piada sobre estupro feita pelo comediante Diogo Portugal

Nós, entidades do movimento de mulheres e feministas do Paraná, repudiamos a piada sobre estupro feita pelo comediante Diogo Portugal, que foi encontrada em um vídeo divulgado no Facebook no final do mês de março. Ao fazer a piada, o comediante faz incitação e apologia ao crime. Exigimos retratação pública do autor dessa declaração machista e com comportamento misógino e vamos acionar o Ministério Público do Paraná, solicitando a abertura de inquérito contra o humorista.

O Festival Risorama (shows de stand up comedy), mostra paralela ao Festival de Teatro de Curitiba, aconteceu neste ano de 2015, entre os dias 26 e 31 de março no Park Cultural do Park Shopping Barigui. No dia 29 de março, data do aniversário dos 322 anos de Curitiba, o comediante Diogo Portugal, fez a seguinte piada, no espaço público com capacidade para 900 pessoas, onde estava sendo realizada mais uma apresentação de seu stand up: "Curitiba tem um alto índice de estupro, vocês sabiam disso? Não é mentira isso que eu tô falando, tem alto índice de estupro! Mas depois eu fiquei pensando que faz sentido, né? Porque no inverno de Curitiba, pro sujeito conseguir comer a mulher dele, só estuprando!"

Nós, representantes de diferentes entidades e organizações de mulheres, entendemos que piada sobre estupro é crime e o autor deve ser punido, pois o comediante, nesse caso, torna-se não somente um abusador, mas um sujeito que incita a violência e a cultura do estupro. Estupro não é piada: é crime previsto em Lei!

Denunciamos e repudiamos a declaração de Diogo Portugal pelo desrespeito às mulheres, sobretudo com as moradoras de Curitiba. Esse tipo de chacota pública incomoda a todas nós, todos os dias.  Lutamos pelo fim de todas as formas de violência contra a mulher. Defendemos que nenhuma mulher pode ser agredida física, psicológica ou moralmente. Compreendemos que, ainda que se trate de um show de entretenimento, o autor da piada não está isento do crime, porque as representações simbólicas do ato da violência estão presentes na fala do comediante.

É fato que o Paraná, segundo dados da Comissão Parlamentar de Inquérito Mista (CPMI), que mapeou em 2012 a violência contra mulher no Brasil, é o terceiro estado com mais denúncias sobre a violência contra a mulher. No entanto, esses dados têm que ser problematizados, ou seja, é preciso que façamos uma análise acerca do machismo e o patriarcalismo para cobrar dos gestores públicos a criação de políticas públicas que revertam essas estatísticas. Precisamos também de mecanismos que protejam e amparem a mulher em situação de violência. Hoje, a cada 5 minutos, 1 mulher é vítima de algum tipo violência no Brasil. No Paraná, em 2014, foram registrados quase 40 mil boletins de ocorrência de violências contra a mulher.

Os excessos e incentivos à cultura do estupro têm sido recorrente entre os comediantes. A piada feita por Diogo Portugal é descabida justamente por isso: pela banalização que se faz dos altos índices de violência, principalmente a do estupro. Além disso, é machista, de comportamento misógino e carregada de discurso de ataque ao oprimido, às minorias. Programas brasileiros de TV encabeçados por ‘humoristas’ como Danilo Gentili e Rafinha Bastos, são exemplos de produtos desnecessários na programação da TV aberta; os programas dos ‘humoristas’ citados trazem conteúdos repletos de humor carregados de preconceito, caricatos em seu discurso, além de serem machistas, racistas e homofóbicos. As apresentações dos stand ups, não generalizando, também seguem a mesma linha, uma vez que se caracterizam pelo humor que desumaniza e a linguagem do comediante não é neutra.

Exigimos a retratação pública do comediante nas apresentações dos seus stand ups durante o período equivalente ao que ele utilizou para fazer a agressão. Também, buscando diálogo para propor a ruptura com o machismo, solicitamos que o comediante - em seus shows - se desculpe pelas ofensas gratuitas e afirme que com crime de estupro não se faz piada. Não aceitamos a argumentação superficial de que “na arte humorística tudo é valido” porque “somos um Estado democrático” e “temos liberdade de expressão” e que “é apenas uma piada”. Isso é simplificar o debate na esfera pública. Artistas, produtores e comediantes  têm que se responsabilizar pelo impacto e alcance dos seus discursos. Temos que considerar os nossos limites éticos num Estado que, anos após anos, vem construindo discursos plurais, alavancados principalmente  pelo protagonismo e luta dos movimentos ligados às minorias sociais.

Também solicitamos que o Ministério Público do Paraná acate essa denúncia de abuso e violência contra as mulheres e encaminhe a nossa petição à Promotoria de Investigações Criminais. Para tanto, nosso objetivo é colher assinaturas em todo o estado para reforçar o nosso posicionamento de repúdio em relação à postura do comediante Diogo Portugal, ancorado pela força da lei e pelas medidas judiciais cabíveis a esse caso.

União Brasileira de Mulheres

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